quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Jefferson, Olim-Guerra e memórias desnecessárias

Outro dia eu estava no meu quarto fazendo nada. Foi quando eu resolvi revirar todo o meu armário. É assim que o interior adolescente funciona. Meu interior estava entediado e pensou  "por que não retirar todas essas coisas do armário e depois colocar de novo?". Até porque, essa é uma atividade bastante recreativa e que  serve pra te mostrar o tanto de coisa inútil que você guarda, e às vezes pode te lembrar também do quando você era idiota. Ou ainda é.

Primeiramente, eu observei tudo o que estava dentro do meu armário (guarda-roupas, ou seja lá como você chama esse móvel, eu chamo ele de Jefferson - acho um nome agradável de se pronunciar). Vi que dentro ele tinha muita coisa que eu não usava, muitos cadernos, livros, papéis, caixinhas, só faltava uma passagem estreita e fria pra Nárnia.

Quando eu paro pra observar meu quarto assim, seja qual for a parte dele, me aparece uma vontade estranha de mudar tudo, de organizar, uma vontade de "VAMOS TRASFORMAR ESSE LUGAR!!!!!!!". Essa vontade passa em 3 minutos. Ou menos. Por que? Porque eu vejo que tem muita coisa pra tirar e colocar no lugar (ou jogar no lixo), e eu sou meio fraca pra dar conta. Não que meu quarto seja uma zona. Mas nesse dia eu estava super animada, não tinha nada que podia me derrubar.

Sentei no chão e comecei a tirar tudo de dentro do Jefferson. Sapato por sapato, papel por papel, roupa por roupa. Foi aí que começou a aventura. Eu sempre achei o contrário, mas o Jefferson pode abrigar bastante coisa. Coisas que eu até esqueci que tinha colocado dentro dele. Mas eu estava disposta a deixá-lo organizado, cheiroso, amável, positivo...

Vamos lá, Jefferson! Nós podemos fazer isso!


O Jefferson poderia muito bem exportar para um buraco negro tudo o que fosse inútil o suficiente pra me causar vergonha. Mas ele é um armário malvado. Ele preferiu deixar que eu encontrasse tudo, que eu destrancasse todas as memórias desnecessárias da minha sexta/sétima série do ensino fundamental. 

Sim, tinha coisa guardada lá há 5 anos. Cartas de "amigas", provas com notas boas que me deixavam com vontade de colocar numa moldura (ta aí o motivo para guardá-las), figurinhas e adesivos de álbuns diversos. Achei coisa recente também, mas que me deixaram frustrada. Cada coisa que eu tirava de dentro do Jefferson me trazia uma memória lamentável, tinham memórias boas também mas essas eram raras. Eu ria para não chorar. 

Em meio a risadas e expressões de negação, eu achei a melhor coisa que eu poderia encontrar dentro do Jefferson. Encontrei MEDALHAS! Sim, medalhas! De bronze, prata, e até OURO, olha só! As memórias vindas dessa vez foram da época em que no meu colégio tinha uma gincana chamada OLIM-GUERRA. Olim: Olimpíadas, Guerra: Helena Guerra (nome do colégio). Esse pessoal da organização era bastante criativo.

A Olim-Guerra era baseada em jogos esportivos, em que todos os alunos eram obrigados a participar. Éramos divididos em equipes por cores. Cada turma era uma cor. Contarei de quando eu estava na sétima série, em 2010, e minha equipe era a VERDE-LIMÃO. Me imaginem com uma camisa verde-limão, com o número 23 e meu apelido atrás. Nessa época eu era a Lauuh. Choose Koba Restart.

Como éramos obrigados a participar, eu tinha que escolher algum esporte em que eu era razoavelmente boa e me inscrever para jogar. Quando eu entrei no colégio, eu participava de corridas com bastão, pulava corda, jogava queimada, e sempre minha turma era a campeã. Mas nesse querido ano de 2010, eu escolhi o inesperável. Eu queria ousar. OUSEI. Escolhi o FUTEBOL.

No time das meninas, não tinha muita coisa boa, pra se falar: NOSSA, QUE JOGADORAS MARAVILHOSAS!!! VAMOS CHAMÁ-LAS DE "NEW MARTAS". Não! Mas também não éramos de tudo horríveis, tinha uma ou outra que causava alvoroço, fazia gols, belas defesas. E tinha eu.
Eu era aquela que corria maratonas atrás da bola, e quando conseguia alcançá-la perdia o folêgo e despencava. Sério. Nessa ocasião em especial, eu estava bastante notável por causa da minha camisa verde-limão. E eu estava confiante também. Eu iria fazer um gol e levar minha turma para as finais.
É claro que quando a gente cria expectativa demais a gente se fode, e nesse dia não foi diferente. Eu estava confiante DEMAIS.


I'm Confident. EU VOU GANHAR ESSA MEDALHA!

O jogo começou e eu comecei a correr. Desviava de uma, cruzava a bola, perdia o fôlego, até aí tudo normal. A torcida também estava maravilhosa. Gritavam "É O VERDE QUE MANDA AQUI!" ou "PASSOU UM AVIÃO, E NELE TAVA ESCRITO QUE O VERDE É CAMPEÃO". Isso me deixava mais confiante ainda. Mas também tinha o povo do contra. A oposição. E na oposição tinha a menina que mais me odiava no colégio. Vamos chamá-la de Tônia. 

A Tônia estava sentada na arquibancada, e não estava em silêncio. Ela me gritava e me xingava. Eu sofria um bullying oculto, que na época não causava tanto alvoroço. Mas eu não estava nem aí. I'M CONFIDENT! Foi quando o pior aconteceu. 

Talvez eu estivesse um pouco incomodada com os insultos da Tônia, porque perdi a concentração no jogo e trombei com uma jogadora adversária. Foi uma trombada espetacular. Eu caí para um lado, ela para o outro. Eu rolei. A Tônia riu. A torcida verde-limão se calou. 

Fomos retiradas de campo, eu não estava nem um pouco machucada, mas fiz drama pra sair logo de jogo. Eu estava cansada, sem fôlego, mas sensata o suficiente para saber que já era hora de dar uma pausa. Por fim, a equipe verde-limão ganhou sem mim, o que foi um alívio. Eu já não era mais um poço de confiança no futebol. Era melhor eu voltar para o atletismo. 

Nesse ano, a minha equipe ficou em terceiro lugar, e ganhei a medalhinha de bronze. 
  
Sentada ainda perto do Jefferson, recordei-me de várias outras olim-guerras, e olhando para as medalhas quase chorei. Na oitava série eu fiquei amiga da Tônia, mas hoje em dia perdemos contato. Por mais que os momentos que pude relembrar fossem vergonhosos, eu gostei de lembrar. 

Jefferson até hoje me faz lembrar desse tipo de coisa, coisas nem tão desnecessárias assim. Talvez daqui uns 10 anos, ele esteja cheio de boletos de compras pela internet, sei lá.

Vocês, meus colegas dessa época, se ainda lembrarem de mim, me mandem uma mensagenzinha no whatsapp, eu vou gostar de lembrar de mais coisa.
  



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